A coisa sobre Pink Floyd, é que a gente pensa que os conhece, mas cada vez que a gente escuta, experimenta uma sensação completamente diferente. Não importa que seu álbum de maior sucesso tenha sido lançado em 1973, a experiência de ouvi-lo nunca se repete, nunca se esgota, pois há sempre um elemento novo que não ainda havíamos percebido.
O “The Dark Side of the Moon” é assim: uma grande metamorfose. Individualmente, suas canções de acordes suaves arrepiam e impressionam por sua “simplicidade complexa”, mas não têm tanta força, especialmente por causa dos cortes bruscos no final. Mas conforme as faixas vão passando – e é importante que se escute o álbum na ordem original – fica claro que o álbum não é feito de músicas independentes, o álbum inteiro é uma enorme música de 43 minutos, que nos conduz por sendas secretas dentro de nós mesmos.
A princípio o que se sente é uma indescritível tranquilidade. Os elementos líricos e musicais são intercalados com perfeição, e a harmonia entre vozes e instrumentos dão a impressão de sonho, como em “The Great Ging in the Sky”, durante aquela longa sequência instrumental/vocal que faz o cérebro fluturar. Entretanto, da metade para o fim, uma angústia não-se-sabe-de-onde se instala dentro de nós em forma de melancolia. Não se trata de uma regra, é claro, mas esse fenômeno misterioso é praticamente inevitável quando se escuta o álbum com atenção.
Isto porque Roger Waters, que nesta época começava se consolidar como líder incontestável dos Floyd, escreveu letras atemporais, inspiradas nos medos e ambições impostos por uma sociedade fria e capitalista a homens cada vez menos humanos. O dinheiro é tóxico como gás em “Money”, o medo de envelhecer está em “Time”, a barreira invisível que afasta cada vez mais as pessoas em “Us and Them”, e claro, em “Brain Damage”, a clareza que só a insanidade é capaz de alcançar (there's someone in my head but it's not me).
Os efeitos sonoros, como relógios, caixas registradoras, vozes aleatórias e o bater de um coração, utilizados em Dark side de forma pioneira, ajudaram a criar uma aura mística em torno do álbum, sem contar com o caráter revolucionário da produção, em um tempo em que ainda nem existiam programas de edição de áudio. Mais tarde, esses elementos seriam explorados de forma ainda mais ousada no emblemático The Wall, em 1979.
O fato é que The Dark Side of the Moon, também (des)conhecido como “
aquele álbum com um triângulo e um arco-íris”, é uma experiência fantástica, psicodélica mas extremamente real (quase palpável), que infelizmente deve passar despercebido por muitos nessa nova geração. A sequência final, de “Brain Damage” e “Eclipse” garantem um final apoteótico, que não deixa outra vontade, senão a de ouvir tudo novamente.