Sala de recepção

Eu sempre quis virar o ano chorando. Ficava observando as pessoas se abraçando e invejava seus choros com cheiro de superação, felicidade e esperança. Eu nunca tinha tido um motivo para chorar assim. Nunca tinha passado por um ano tão difícil que pudesse me arrancar lágrimas, e nunca havia superado nenhum desafio realmente grande – até esse ano.

Esse ano foi, aparentemente, mais um de estudo árduo. Mas quantas pessoas não prestaram vestibular comigo? Seria bobagem assumir esse desafio como meu. Meu desafio maior não era entrar numa faculdade. Meu verdadeiro desafio era enfrentar o meu medo de amar. Eu – que segundo dizem – tenho potencial para ser tão sensível e afetiva, me trancafiava por dentro por medo de me apaixonar. Não queria ter o coração partido novamente, porque dói muito, dói tanto quanto uma britadeira no peito; e eu sabia que quando eu amasse seria assim: tão intenso que ninguém jamais poderia corresponder na mesma proporção.

Eu me afastava de qualquer possibilidade de relacionamento. Passei dois anos me escondendo na desculpa de adorar ser solteira e livre, apenas para não precisar correr riscos, apenas para não colocar meu coração em xeque novamente. Mas alguém jogou esse jogo melhor que eu. Foi comendo pelas bordas (como fosse papa de maizena) até chegar no meu epicentro. Aí eu perdi o equilíbrio. Ainda passei um tempo fingindo que estava no controle, fingindo que as cartas quem dava era eu. Mas como eu nunca fui boa com cartas, perdi esse jogo também. Perdi tudo. Todas as minhas fichas foram roubadas sem que eu nem mesmo apostasse. Eu não tive tempo para fazer apostas. Escorreguei para o amor como quem sai rolando em uma escada. Cada degrau era um impacto (eu estava me perdendo em mim e me encontrando nele).

O ano acabou e eu estava apaixonada. Completamente entregue e vulnerável, como sempre temi – completamente magoável. Entretanto, nunca me senti tão feliz. Aprendi que se a gente souber se entregar, a entrega pode ser maravilhosa. É como perder uma responsabilidade, como passar no vestibular. Meu coração já não me pertence. Já não cabe em mim nem a mim. Meu coração agora tem outro dono, tem um síndico, um zelador e um morador (tudo em uma coisa só), e a responsabilidade é dele. Eu corro riscos, claro. Mas enquanto não inventarem um “seguro coração”, não será diferente, e até lá eu não vou deixar de amar – porque embora o desamor machuque, o amor é bom demais.

Entender isso foi minha maior vitória esse ano, e a minha maior frustração foi não ter chorado por ela. Não ter aproveitado aquela chuva de fogos de artifício para chorar minhas próprias lágrimas de superação, felicidade e esperança. Ao contrário disso, eu estava chorando por razões infantis, por tristeza vã, por ter esquecido que as pequenas coisas – os pequenos momentos – também podem ser memoráveis (talvez esse seja meu desafio do ano que vem).

15 comentários:

Thai Nascimento disse...

Legal. NO fim acabamos descobrindo que amar é bom, não tem jeito.

Seja feliz em 2010!

Uriálisson disse...

eu chorei,so não tinha ninguém pra abraçar na hora(não encontrei minha amiga no meio da multidão),mas valeu a pena,foi a primeira vez que vi a queima de fogos la da barra,na praia. Sempre viajei desde pequeno nessa epoca,ou quando tava aqui via de longe,do meu apartamento da pra ver alguma coisa,mas nunca era o mesmo de ver ali de perto,em cima dagente...desde criança queria achava lindo os fogos,nutria uma certa magia naquilo,não que fosse nada demais,mas acho que é umas das coisas bobas que teria que ver ainda,rs.Mas falando dos desafios,o meu nem foi em encarar um relacionamento,mas justamente passar pelo periodo em que ele acaba,e mesmo com todas as dores e desabores,foi importante pra me ver e crescer.Não costumo falar isso publicamente,mas você tocou no assunto,ai algo sentiu vontade de sair

Vanessa Souza disse...

Haverão muitas lágrimas para os próximos dias 31 de dezembros :)

Mariana Andrade. disse...

teu texto realmente tocou fundo. acho que era essa a tua intenção. e, pelo menos esse objetivo, alcançaste com louvor.

um brinde às lágrimas derramadas pela certeza de que valeu à pena, ou que poderá valer.

e um ótimo ano.

César Schuler disse...

Desculpa por tornar você magoável, e obrigado por se apaixonar por mim (:

Você foi a melhor coisa que me aconteceu esse ano e eu te amo demais!

Érica Ferro disse...

"...porque embora o desamor machuque, o amor é bom demais."

Realmente!
Por isso, vamos amar, amar muito.
Depois que a ferida vier, daremos um jeito para que ela cicatrize.

Um abraço.

Unknown disse...

fiquei bebado nessa virada que não tive tempo de chorar, e olha que motivos tive, 2009 foi péssimo. Enfim, a felicidade de ver minha fámilia reunida e depois de 5 anos passando ano novo longe deles. Fiquei muito feliz!

Nathália von Arcosy disse...

Engraçado, a primeira vez que coloquei os olhos no teu blog achei bom. Agora, alguma coisa mudou em mim de forma tão intensa que o vejo de outra forma. Você mudou ou talvez tenha sido eu, mas de qualquer forma, agora me vejo em cada palavra tua. Se eu pudesse resumir o que sinto quando venho aqui seria na palavra "abrigo". É aqui que vejo que o que sinto é compartilhado também por você, na mesma intensidade.

Quem sabe o meu desafio pro ano que vem seja perder esse meu medo bobo e escrever mais?

Anônimo disse...

Ja passei tantas viradas chorando, que nao pretendo mais... Mas não foi por amor, foi por mim.
Essa historia de ficar vulnerável acontece, é necessário passar por isso. Entre amar e sofrer, eu prefiro ser feliz. É dificil doar um coração. ;*

Anônimo disse...

eu não chorei. foi uma noite tão feliz. meu coração tava na mão, fato! quilômetros e quilômetros distantes do meu amor. mas terminou que ele foi pra junto de mim dia 2 e lá ficamos felizes para sempre. hahahaha ;D

R. disse...

Quem não se arrisca não aproveita nada em sua plenitude. Botar o coração assim, na mão do outro é sim um puta risco, mas sem fazê-lo como viver um romance pra valer?
É como um amigo meu que morre de medo de altura e saltou comigo de uma cachoeira de 7 metros falou "tou morrendo de medo, mas PRECISO pular dessa merda". Viver é isso. Risco! E mesmo que nos arrebentemos no final, o importante não é resultado, é a trajetória :)

(eu ando muito o rei das filosofias de buteco)

Quanto à virada, virei o ano bêbado e nem tenho muitas lembranças de como foi. Lembro que eu estava feliz, aliás, todo mundo estava. Foi um primeiro de janeiro bem bom.

Ó, um ótimo 2010 pra você, ARRISCADO e feliz!

Bjs!

Iasminne Fortes disse...

eu não chorei na passagem de ano, mas me deu vontade. Acho que foi a saudade da família, as lembranças, nostalgias e mais um monte de coisa que faz doer ao sentir saudade. Adorei seu texto e que venha 2010 cheio de coisa boa e superações =*

Emerson Souza disse...

Muito bem, agora: FASE 2.
Bjus.

Charles Bravowood disse...

" Não queria ter o coração partido novamente, porque dói muito, dói tanto quanto uma britadeira no peito; e eu sabia que quando eu amasse seria assim: tão intenso que ninguém jamais poderia corresponder na mesma proporção."

Acho que encontrei o texto que procurava para ler com o coração, acho que estou conseguindo colar os cacos, \o/

Beijo,

Charlie B.

Jaime Guimarães disse...

Eu não chorei na "virada de ano". Já tinha chorado bastante durante o ano passado. Preferi beber (coisa que não faço, então imagine o desastre) e vomitar mágoas e rancores. E uma coisa interessante: as pessoas perguntaram pra mim como foi passar a "virada" de ano sozinho ( sem ir pra canto nenhum, eu em casa, eu e Deus e uma garrafa de vinho). Digo que foi ótimo, porque passei uma "virada" de ano com a pessoa mais importante que eu pude encontrar: eu mesmo.

Se estiver bem, todas as pessoas ao meu redor também estarão. E isso inclui amigos, amigas, paqueras, amantes, parentes,desafetos.

Bom, um grande 2010 pra você, mesmo depois de quase 1 mês atrasado...rs =)